segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Realização por onde?


Se você já leu algo sobre sociologia do trabalho com certeza já passou por essa divisão tipológica.

Existem pelo menos dois tipos de trabalho: o trabalho que é uma realização em si e o trabalho que é um meio para a realização.

Nos meus primeiros 25, 26 anos, persegui claramente o primeiro tipo. Rejeitei toda e qualquer forma de atividade que não me realizasse ela própria. Agora, no alto dos meus 28 algo definitivamente mudou.

Tudo que quero hoje é um trabalho que me dê meios para me realizar fora dele, ou seja: que sustente minha família, que não me estresse para que eu possa assim manter minha qualidade de vida nas horas de folga, que me permita equilibrar minhas horas de lazer, que me permita estudar ou ler o que eu quiser, que não invada minha vida pessoal e não me acorde as 4:30h da manhã e me faça dormir à meia noite, que não me traga ambição de status para que eu não cegue meus olhos outra vez.

Troco todo o reconhecimento na carreira, todo aquele salário de fortuna e a necessidade de continuar na minha área de formação pelo que descrevi acima. Troco de olhos fechados!

Não sei se a mudança vem da época que vivo (meus 30 chegando perto), da estagnação do que poderia vir a alcançar no meu campo de atuação, ou da necessidade de família que agora é imperativa. Seja como for essa ideia de mudança que povoava minha mente nos últimos dois anos hoje é tão concreta quanto as teclas sob as quais escrevo este texto.

Lembro de uma palestra do café filosófico sobre a profissão em tempos de mudança, vou ver se posto aqui depois, em que se falava sobre "prazo de validade" para carreiras e cursos que os indivíduos perseguem ou fazem (Penso que, para completar, minha carreira atual está bem próxima do vencimento - esse mês completa 10 anos que trabalho na mesma área em diferente segmentos e empresas).
O filósofo ainda colocava a necessidade de uma ética durante a mudança de profissão, área ou filosofia de trabalho. Para ele, não deveríamos encarar a mudança como a afirmação de fracasso do que foi antes, mas sim como um fechamento de um ciclo que nos trouxe realização e aprendizado. Pois, quem inicia uma nova etapa não o faz necessariamente porque não conseguiu vencer na última, mas porque mudou de opinião, visão e objetivo.

Isto posto, penso que o que resta a nós que queremos mudar é pedir força e serenidade suficiente para acolher e viver sob esse conceito.

Um comentário:

  1. Eu penso exatamente assim. O trabalho como um meio de realização. O problema é que cada dia mais me sinto escravizado e quando minhas funções cruzam a linha dos meus limites pessoais, não tenho muito o que fazer. Esse é o perigo deste caminho.
    Muitas obrigações me demandam muito recurso financeiro que me obrigam à submissão. Difícil sair desse ciclo. Feliz por você ter conseguido, na minha visão, alinhar as 2 coisas.

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