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Ainda, pela frescura aberta da minha janela única, se ouviam cair dos telhados os pingos grossos da acumulação da chuva ida. Ainda, vagos, havia frescores de haver chovido. O céu, porém, era de um azul conquistador, e as nuvens que restavam da chuva derrotada ou cansada, cediam, retirando para sobre os lados do Castelo, os caminhos legítimos do céu todo.
Fernando Pessoa
Esse sábado, dia 21, o Menino Maluquinho completou 30 anos. São trinta anos desde a publicação daquele livrinho que vários de nós lemos ainda crianças.
Do livro, para as tiras, das tiras para a TV e o cinema. É certo que muito foi feito com esse querido personagem. Lembro até da Menina Maluquinha chamada Julieta... Mas, sem dúvidas, posso dizer que a adaptação que mais gosto foi a feita em formato de seriado para a TVE em 2005.
Os episódios são muito bem escritos e retratam com fidedignidade o cotidiano de nossa infância (tá, pelo menos a minha). As invenções, a relação com os adultos, com a escola, amigos, brinquedos e sobretudo com a própria imaginação. Tudo rememorado por um rapaz de seus 20 e tantos anos que é o próprio menino maluquinho já adulto.
Se você nunca viu a serie pode aproveitar a oportunidade para vê-la na TV Brasil (ex TVE) de segunda à domingo às 10:30h com reprise de segunda a sexta às 14:30h. Fica a dica!
Semana passada a esta mesma hora se confirmou, fui diagnosticada com dois endometriomas um em cada ovário... São tumores benignos graças a Deus, mas serei operada meio que as pressas na segunda que vem.
Tentando fazer um resumo leigo sobre o endometrioma ovariano:
"é um tumor cujo conteúdo é formado por um líquido semelhante a chocolate derretido. É decorrente de uma doença chamada endometriose, na qual o tecido que reveste a parte interna do útero (e que é eliminado a cada menstruação), encontra-se localizado fora dele, neste caso, no ovário. Como o tecido endometrial é estimulado a se desenvolver através do hormônio feminino (estrógeno), o crescimento desse tipo de cisto tende a ocorrer mês após mês."
Na primeira conversa o médico me alertou que deveria perder quase a totalidade de um dos ovários, ou todo, e talvez boa parte do outro... Bom, naquele momento eles não sabiam ao certo, e disseram que talvez desse para salvar mais coisa. Para completar, ontem na consulta pré-operatória o médico me disse que não tinha falado antes para não me assustar, mas também testaria as trompas durante a cirurgia, pois havia o risco de haverem tumores obstruindo elas também...
Fiquei devastada durante toda a semana... Não pela cirurgia em si. Confio que vai correr tudo bem e como são benignos não tenho com o que me preocupar. Mas, volta e meia estou em prantos com a possibilidade de não puder engravidar de um bebê meu.
A primeira vista foi como se estivesse abortando todos os filhos que um dia pudesse ter....
Agora, uma semana depois já estou mais fortalecida e acreditando que vai ser mais positivo. Já começo a pensar em adiantar os planos de casar e ter filhos. Graças a Deus estou com uma pessoa que entendeu perfeitamente a situação e está topando entrar comigo de cabeça se for esse o caso.
Não tenho nem como expressar como o apoio familiar é importante nesse caso. Colo é necessário sim! E não tem melhor colo do que o daquele que amamos, pai, mãe, namorado/marido...
A informação também ajudou a me tranquilizar. Ouvi o médico, li algumas teses e artigos científicos das sociedades de ginecologia Inglesa, Americana e Brasileira. Achei inclusive uma dissertação portuguesa de piscólogas tratando o assunto pelo lado humano e social com uma abordagem baseada na história de vida de 4 pacientes. Vi fórums de pacientes com o mesmo problema e é claro mantive distância de tudo que não fosse devidamente assinado por médicos, faculdades ou associações. Não resisti e assisti um vídeo da cirurgia inclusive...
O médico me explicou toda ela ontem. A cirurgia vai ser simples, eles abrem quebram a membrana do tumor, aspiram todo o sangue de dentro, quebram a parte que está aderida ao ovário e aspiram ela também (é nessa parte que perdemos a maior parte do órgão, meu médico já avisou que em um deles vai sobrar na melhor das hipóteses apenas 20%). Depois eles vão colocar contraste nas tropas para ver como elas estão. Ele não disse, mas acho que eles encontrarem alguma coisa nelas perco elas também.
Após cirurgia eles vão entrar com um tratamento com um análogo do Gnrh. Vão cortar todo o meu estrogênio e provocar um menopausa por cerca de 4 a 6 meses. Ele disse para eu me preparar para os calores, dor de cabeça, sensibilidade excessiva e etc... A partir daí talvez venha uma nova laparoscopia, injeções de hormônio para suspender a menstruação ou quem sabe uma gravidez. O fato é que temos que suspender a menstruação para evitar o aparecimento de novos tumores.
Caso perca as trompas não tem outro jeito, a gravidez terá de ser a FIV (fertilização in vitro). Caso contrario talvez dê para esperar algumas tentativas com o que restar dos ovários.
Sei que não devia estar tão mal pois não é nada que hoje e dia tenha chance de me levar a óbito, mas é uma doença cronica que me levará a batalhas longas a partir de agora.
Caso você estiver pesquisado na net logo após de receber o diagnóstico e quiser conversar sinta-se a vontade para me mandar uma mensagem. Sei bem o que é estar nesse lugar em que o chão parece faltar e o mundo já não está mais ao alcance de nossa mão. A cabeça da gente dá um nó. Afeta nossa feminilidade, nossa relação familiar e amorosa, nosso trabalho... Como diziam as autoras portuguesas daquela dissertação que falei mais em cima: Não é uma doença letal, mas "ela atravessa e mina a vida da mulher em todos os seus setores".
Para você que está enrolando para marcar o preventivo: Vá ver seu médico!
Eu não atrasei nem 2 meses e olha só o que descobri. Diferente da maioria das mulheres eu não estava sentido absolutamente nenhuma dor. Imagine se tivesse deixado passar 6, 8 meses ou quase 1 ano como algumas amigas fazem, alegando apenas falta de tempo...
PS: Pilates, Tribal e Dança do Ventre suspensos por tempo indeterminado!